segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

É TEMPO DE CRESCER

Temos recebido muitos emails com dúvidas e também muitas mensagens de apoio ao Blog. Isso nos motivou a pensar se esse Blog já estava na hora de crescer ou se já tinhamos cumprido nossa missão. Optamos pelo crescimento.

Vamos mudar muito em breve para um novo endereço, bem como teremos um novo visual, mais limpo e intuitivo. Assim teremos condições de oferecer mais conteúdo e também de atender aqueles que precisam de uma atenção mais especial.

Essa mudança faz-se necessária principalmente por dois motivos:

  1. Queremos oferecer mais informações sobre imigração, visto, estilo de vida, ou seja tudo aquilo que muitos quando decidem viver em Portugal tem que saber e nem sempre encontra da maneira mais rápida.
  2. Queremos dedicar mais tempo ao site. E tempo de qualidade tem um esforço que até o momento não conseguimos dedicar. Teremos um compromisso com a rapidez e com a informação certa.
Então ainda essa semana as coisas vão mudar. Para melhor é claro.

Aguardem.

Deixo abaixo uma mensagem de um amigo ansioso por mudanças.






domingo, 7 de dezembro de 2008

Imprensa portuguesa liga imigrantes brasileiros à criminalidade, diz estudo

Capa do jornal português 'Correio da Manhã' de 19 de setembro de 2008

A imprensa portuguesa apresenta os imigrantes brasileiros como ligados à criminalidade. Esta é a avaliação de Isabel Ferin, pesquisadora responsável pelo estudo Mídia, Imigração e Minorias Étnicas, cuja edição relativa a 2007 será publicada no final deste mês.

No estudo, realizado anualmente desde 2004 por encomenda do Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural de Portugal, são analisadas as notícias relacionadas com a imigração publicadas ao longo do ano em seis jornais de circulação nacional e em canais de televisão. As reportagens são divididas por temas e nacionalidades.

Segundo a pesquisadora, há uma ligação entre as citações de brasileiros e as matérias sobre criminalidade, o que se reflete na imagem dos brasileiros na imprensa portuguesa.

“Infelizmente, a imagem dos brasileiros está relacionada aos crimes. Em relação ao sexo masculino, a imagem é do assaltante, enquanto a das mulheres é ligada à prostituição, algumas vezes como criminosas e outras como vítimas, mas sempre ligada à transgressão social”, diz Isabel Ferin.

Números

Segundo dados do governo português, existem cerca de 431 mil imigrantes legalizados em Portugal.

Os brasileiros formam o maior contingente, com 77 mil legalizados além de 30 mil ilegais, de acordo com estimativas do prórpio governo.

Os caboverdianos vêm em segundo lugar, com cerca de 62 mil indivíduos, deixando em terceiro os ucranianos com 46 mil.

Apesar da associação com a criminalidade feita pela imprensa, os brasileiros representam pouco mais de 2% da população carcerária de Portugal.

A maioria dos 246 cidadãos brasileiros que cumprem penas em prisões portuguesas foi condenada por tráfico de drogas, presos ao tentarem entrar no país com entorpecentes.

Motivos históricos

Para Isabel Ferin, o motivo dessa imagem associada à criminalidade está ligado à história da relação entre os dois povos.

“Atribuo essa relação entre brasileiros e transgressão social a estereótipos coloniais, sobretudo à (visão da) mulher brasileira como prostituta e do homem como malandro”.

Ela acredita que o motivo pelo qual os brasileiros são a nacionalidade com pior imagem na imprensa está relacionado ao tipo de imigração.

“Os brasileiros são os únicos imigrantes que entram em situação de concorrência com os profissionais portugueses. Isso é reflexo de alguma sensação de inferioridade visível na sociedade portuguesa”.

Para Gustavo Behr, presidente da Casa do Brasil de Lisboa – a maior associação de imigrantes brasileiros em Portugal – não há uma posição única da imprensa portuguesa em relação aos brasileiros.

“Acho que há diferenças entre os vários meios de comunicação social, que se comportam de forma diferenciada em relação aos brasileiros. Às vezes isso depende de quem escreve”.

Ele acredita que devem haver limites éticos para os textos. “Não acho legítimo os meios relacionarem os imigrantes com a criminalidade. É uma questão que deve ser tratada com o devido zelo. Uma notícia sobre crime que se refira a nacionalidade pode criar resistência na sociedade em acolher os imigrantes”.

Ano atípico

No estudo relativo ao ano de 2007, foram analisadas 2.624 matérias. Do total, a nacionalidade com referências no maior número de textos foi a brasileira, com 325 ocorrências (12,5% do total), seguida pelos ciganos (com 9,4%) e ucranianos (com 3,2%).

As matérias sobre imigrantes ou imigração que não especificam nenhuma nacionalidade somam 44%. No total, foram citados imigrantes de 19 nacionalidades.

O estudo também analisou as notícias veiculadas pelos canais de televisão, em um total de 237 matérias.

A principal nacionalidade citada na TV também é a brasileira, com 11,8% das referências, seguida dos nativos do Magreb e dos cidadãos dos países da Europa Oriental, ambos com a mesma porcentagem: 7,6%.

Segundo a pesquisa, em 2007, o principal tema abordado foi a clandestinidade, com 22,6% do total, ficando em segundo lugar a criminalidade, com 22,5%, seguida pela discriminação, com 12,5%.

Isabel Ferin, no entanto, considera que este foi um ano atípico.

“Em 2007, como houve a Presidência portuguesa da União Européia e, por outro lado, como o alto-comissário para a Imigração teve um papel muito ativo junto aos meios de comunicação social, a ênfase maior dos textos publicados foi para a integração dos imigrantes. Em 2008, pelo levantamento que estamos fazendo, o quadro já é diferente, com um aumento do tema da criminalidade”, disse, referindo-se ao estudo que será publicado em 2009.

Fonte

sábado, 6 de dezembro de 2008

Nem todos conseguem lugar ao Sol

A brasileira Janice Delunardo, de 34 anos, foi para Portugal em 2001 com uma oferta de emprego e o sonho de ser diretora de cinema.

A proposta de trabalho era falsa, nunca conseguiu emprego em sua área e diz ter sido vítima de racismo. Após cinco anos no país, planeja voltar para o Brasil.

"Minha filha Victoria nasceu em Portugal. Essa foi a maior alegria da minha vida", disse Janice à BBC Brasil. "Mas o sonho de ser uma mulher bem-sucedida fora do meu país não alimento mais".

Formada em publicidade – com especialização na Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de Los Baños, em Cuba –, ela trabalhou durante vários anos com produção e direção de cinema e televisão em Vitória e, posteriormente, em São Paulo.

Em Portugal, a formação e experiência de Janice não lhe abriram portas.

"Quando chegamos em Portugal, nos deparamos com uma realidade completamente diferente da que imaginávamos. Fomos enganados. Não tinha emprego nenhum”, lembra Janice, que deixou o Brasil com o namorado.

“Sorte que era verão e facilmente arrumamos trabalho em um restaurante”, disse ela à BBC Brasil.

O namorado trabalhou como garçom e ela, como ajudante de cozinha.

"Descascava quilos e mais quilos de batatas e cortava uma quantidade enorme de cebolas todas as noites. Quando chegava em casa e tentava dormir, não conseguia. Minhas mãos inchavam tanto, que não podia fechá-las", disse.

"Era um trabalho muito cansativo e eu não podia fazer nada diferente. Chorava ao lembrar que tinha estudado tanto no Brasil. Meu companheiro também chorava escondido ao me ver naquela situação”, lembra.

Pouco tempo depois, os dois retornaram para o Brasil por seis meses. No entanto, a volta para casa não foi fácil. Para financiar a viagem, eles tinham vendido o apartamento que tinham em São Paulo, estavam desempregados e sem perspectivas. Acabaram decidindo tentar a vida novamente em Portugal, mas, dessa vez, com trabalho garantido.

Foram morar em Nazaré, a 100 quilômetros de Lisboa e trabalhar como vendedores de produtos direcionados a idosos. O casal trabalhava durante os fins de semana e ganhava comissão pela venda dos produtos.

"Entramos em Portugal com apenas 20 euros. Meu chefe emprestou o dinheiro para as passagens e moramos com ele nos primeiros dias. Depois, alugamos uma casa e as coisas foram se ajeitando aos poucos", disse Janice.

Discriminação

Com tempo livre durante a semana, ela foi atrás de uma vaga em uma loja que, segundo seus amigos portugueses, estava contratando funcionários. No entanto, ao chegar ao local para conversar com a dona do estabelecimento, Janice recebeu um “não”. A proprietária disse que não a contrataria porque não queria brasileiros no local.

"A discriminação acontece em todos os lugares e a todo o momento, mesmo que seja de maneira indireta", afirma. "Acho isso muito injusto porque, no Brasil, somos abertos a todos os estrangeiros.”

“Minha filha nasceu aqui, mas ainda não tem direito à cidadania portuguesa. Ela fala o português de Portugal, mas não pode ser portuguesa”, contou.

Janice conta que, apesar das dificuldades, a vida fora do país valeria a pena se ela tivesse sucesso na carreira profissional.

“Se tivesse trabalhado na minha área, me sentiria mais realizada. Estudei, me dediquei, mas aqui não tenho oportunidade nem de me aproximar”, disse.
Janice Delunardo e a filha nascida em Portugal (arquivo pessoal).
A filha de Janice não consegue a cidadania, apesar de ter nascido em Portugal

Fonte