sábado, 6 de dezembro de 2008

Nem todos conseguem lugar ao Sol

A brasileira Janice Delunardo, de 34 anos, foi para Portugal em 2001 com uma oferta de emprego e o sonho de ser diretora de cinema.

A proposta de trabalho era falsa, nunca conseguiu emprego em sua área e diz ter sido vítima de racismo. Após cinco anos no país, planeja voltar para o Brasil.

"Minha filha Victoria nasceu em Portugal. Essa foi a maior alegria da minha vida", disse Janice à BBC Brasil. "Mas o sonho de ser uma mulher bem-sucedida fora do meu país não alimento mais".

Formada em publicidade – com especialização na Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de Los Baños, em Cuba –, ela trabalhou durante vários anos com produção e direção de cinema e televisão em Vitória e, posteriormente, em São Paulo.

Em Portugal, a formação e experiência de Janice não lhe abriram portas.

"Quando chegamos em Portugal, nos deparamos com uma realidade completamente diferente da que imaginávamos. Fomos enganados. Não tinha emprego nenhum”, lembra Janice, que deixou o Brasil com o namorado.

“Sorte que era verão e facilmente arrumamos trabalho em um restaurante”, disse ela à BBC Brasil.

O namorado trabalhou como garçom e ela, como ajudante de cozinha.

"Descascava quilos e mais quilos de batatas e cortava uma quantidade enorme de cebolas todas as noites. Quando chegava em casa e tentava dormir, não conseguia. Minhas mãos inchavam tanto, que não podia fechá-las", disse.

"Era um trabalho muito cansativo e eu não podia fazer nada diferente. Chorava ao lembrar que tinha estudado tanto no Brasil. Meu companheiro também chorava escondido ao me ver naquela situação”, lembra.

Pouco tempo depois, os dois retornaram para o Brasil por seis meses. No entanto, a volta para casa não foi fácil. Para financiar a viagem, eles tinham vendido o apartamento que tinham em São Paulo, estavam desempregados e sem perspectivas. Acabaram decidindo tentar a vida novamente em Portugal, mas, dessa vez, com trabalho garantido.

Foram morar em Nazaré, a 100 quilômetros de Lisboa e trabalhar como vendedores de produtos direcionados a idosos. O casal trabalhava durante os fins de semana e ganhava comissão pela venda dos produtos.

"Entramos em Portugal com apenas 20 euros. Meu chefe emprestou o dinheiro para as passagens e moramos com ele nos primeiros dias. Depois, alugamos uma casa e as coisas foram se ajeitando aos poucos", disse Janice.

Discriminação

Com tempo livre durante a semana, ela foi atrás de uma vaga em uma loja que, segundo seus amigos portugueses, estava contratando funcionários. No entanto, ao chegar ao local para conversar com a dona do estabelecimento, Janice recebeu um “não”. A proprietária disse que não a contrataria porque não queria brasileiros no local.

"A discriminação acontece em todos os lugares e a todo o momento, mesmo que seja de maneira indireta", afirma. "Acho isso muito injusto porque, no Brasil, somos abertos a todos os estrangeiros.”

“Minha filha nasceu aqui, mas ainda não tem direito à cidadania portuguesa. Ela fala o português de Portugal, mas não pode ser portuguesa”, contou.

Janice conta que, apesar das dificuldades, a vida fora do país valeria a pena se ela tivesse sucesso na carreira profissional.

“Se tivesse trabalhado na minha área, me sentiria mais realizada. Estudei, me dediquei, mas aqui não tenho oportunidade nem de me aproximar”, disse.
Janice Delunardo e a filha nascida em Portugal (arquivo pessoal).
A filha de Janice não consegue a cidadania, apesar de ter nascido em Portugal

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